Nas
esquinas e bancos da Avenida Conde da Boa Vista, no Recife, um grupo de
pessoas surdas se reunia para conversar. Pouco antes de 1985, o grupo
ainda improvisava um espaço de convivência, sonhando com o dia em que
poderiam ter um lugar próprio. E conseguiram. Há 30 anos era criada a A
Associação de Surdos de Pernambuco (ASSPE), além das conversas eles
aproveitaram o espaço para atividades culturais. Umas delas é uma
espécie de xodó de quem não ouve, mas enxerga a música. A banda
Batuqueiros do Silêncio, não faz apenas barulho, mas também realiza
sonhos.
O grupo musical trouxe uma nova maneira de mobilizar a
comunidade surda. A iniciativa de trazer a música para surdos partiu de
Irton Silva, 42 anos, mais conhecido como Batman. “O resto é silêncio”,
curta metragem brasileiro que inspirou a criação de projetos de música
para surdos recifenses, também foi essencial para a base do grupo de
batuqueiros.
“Em abril de 2009, eu não sabia nada de libras, mas
aceitei o desafio. Quando cheguei com a proposta de levar música para
surdos, percebi uma reação negativa das pessoas e uma superproteção com
quem é surdo. Após aulas de teoria musical fiz o teste com o metrônomo
visual”, relatou Irton Silva.
O metrônomo visual é um aparelho de
madeira semelhante a uma extensão elétrica que funciona com diversas
lâmpadas. Cada lâmpada tem uma cor ou intensidade diferente, o que
determina a intensidade da nota musical.
Com alfaias, os músicos tocam ritmos tradicionais
como o maracatu guiados por luzes e vibrações. “Eu tinha vontade de
participar de um coral de libras, mas muitas pessoas diziam que não
faria sentido um surdo participar de um coral, já que não tinha som.
Apesar de ter sido desmotivada eu encontrei no Batuqueiros do Silêncio
meu caminho”, afirmou Karina Guimarães, 30 anos, membro do grupo.
Hoje,
cerca de 1,5 mil surdos usam o espaço para ajudar a superar as
adversidades do dia a dia. “Convivendo com ouvintes eu só me comunicava
através da leitura labial. Após passar um tempo na Alemanha um amigo me
falou sobre a ASSPE e eu decidi conhecê-la. Ao voltar para Pernambuco
fui apresentado a uma linguagem própria e a um amplo convívio social”,
contou René Ribeiro, 38 anos, presidente da associação.
Fonte: www.diariodepernambuco.com.br
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